Construindo e Desconstruindo a Educação

Hoje vamos conversar no curso online  sobre um assunto amplo e que dá “pano pra manga“: Educação na escola, educação de casa. Como o assunto é uma vastidão de vias e foco, encontrei estes dois vídeos, do Canal Futura e outro da Univesptv que falam sobre a educação na escola e sobre o cuidar e o brincar, atrelado ao conceito de educar.

O primeiro vídeo fala sobre o papel da escola. Confesso que tenho muitos questionamentos sobre o início do vídeo, mas entendam, creio que podemos sair da zona de conforto (que nos faz repetir as coisas sem refletir) para uma posição crítica, no sentido de nos darmos conta de o que estamos reproduzindo e como queremos e acreditamos que a educação siga. Questionar, na minha concepção, é o que fez e faz evoluir a humanidade. Portanto, trago questionamentos para avançarmos juntos, cada um com seu conhecimento, experiência e crenças.

Ao serem questionadas, as crianças respondem que “Escola é o lugar onde a gente aprende”. E eu pergunto: por quê? Se a escola é o lugar onde se aprende, o que estamos fazendo em todo o resto do tempo que vivemos? Perdendo tempo? Essa crença, deixa de lado a constatação impressa em incontáveis pesquisas sobre o desenvolvimento humano e sobre o aprendizado de que, por exemplo, tudo o que fazemos leva informação ao nosso cérebro que acomoda-as, processa-as e transforma-as em aprendizado.  Além disso, se a criança aprende brincando (e ela brinca e fantasia a todo o momento), o que acontece no tempo da escola quando ela fica sentada copiando no quadro ou realizando uma tarefa imposta sobre sua vontade de brincar?

“O aluno está na escola não por que é divertido, é gostoso, mas porque as coisas que a gente faz é porque tem que ser feito” Esse pensamento apresentado no início do vídeo denuncia o que, de forma muito geral, a grande maioria da população aprende. Porém, esse discurso foi moldado lá nos idos da revolução industrial, quando a sociedade na época, necessitava de mão de obra acrítica. A dinâmica social atual demanda outro tipo de pessoas, que acessam informação de forma irrestrita e, por isso, necessitam o exercício do pensar, criticar e selecionar qual informação presta e o que faz sentido hoje. Sem essa capacidade reflexiva e mais, criativa, nem mesmo o subemprego sustenta. Pessoas bem sucedidas hoje têm alguma criticidade, criatividade, sabem como usar a informação e por causa disso, têm mais consciência de si, do outro e do mundo. Aquelas que foram desenvolvidas com o recurso da Inteligência Emocional têm ainda mais “lugar no mundo.” São pessoas que ao invés de aceitarem que “tem que fazer, porque tem de ser feito”, elas questionam, se posicionam e conseguem ser mais íntegras e felizes.

Logo em seguida, no vídeo, a diretora da creche responde que o papel da escola é o de segunda socialização, onde se cuida das relações e onde o adulto é o mediador. Estamos falando a mesma língua: a socialização (primeira) acontece no mundo, com a família, com os desafios de encontrar gente diferente ao irmos à pracinha, ao visitarmos alguém onde precisamos nos ajustar para sermos aceitos, etc. A socialização é uma só, acontece em qualquer lugar onde o encontro se dá.

Socialização é a assimilação de hábitos característicos do seu grupo social, todo o processo através do qual um indivíduo se torna membro funcional de uma comunidade, assimilando a cultura que lhe é própria. É um processo contínuo que nunca se dá por terminado, realizando-se através da comunicação, sendo inicialmente pela “imitação” para se tornar mais sociável.  A socialização é o processo através do qual o indivíduo se integra no grupo em que nasceu adquirindo os seus hábitos e valores característicos. É através da socialização que o indivíduo pode desenvolver a sua personalidade e ser admitido na sociedade.

Sim, creio que o adulto seja o mediador, porque é o exemplo da criança. Ele media a relação da criança no espaço e com os outros. Ele auxilia a criança, muito mais através de sua própria relação com o espaço, a entender seu ambiente. É o adulto, pela atenção amorosa e acolhedora, que fornece a segurança necessária (ou não) para que as crianças tenham coragem e ousadia de experimentar o mundo. Assim é como todas as crianças merecem que sejamos como adultos. Ainda assim, por vezes ser adulto, não tendo tido educação emocional, é uma sequencia de conflitos e ações esquizofrenizantes, que produz mais insegurança na criança do que oferece o ambiente (interno e externo) acolhedor que é seu por direito.

Nesse ponto questiono: “Qual é nosso papel, como famílias, na educação das crianças?”. Na grande maioria das famílias, os adultos trabalham 10h por dia fora de casa e as crianças ficam das 08h às 18h na escola. O tempo da família com as crianças é muito reduzido. Embora os estudos em Sociologia apontem que o esquema de trabalho tem mudado velozmente, o que significa que daqui há 5 anos teremos ainda muitas mudanças sobre como geramos renda e de que forma somos produtivos, ainda vivemos sobre a ditadura do “é assim, preciso fazer por que não tem outro jeito”. Ainda vamos evoluir nesse quesito. De qualquer forma, quando estamos com os pequenos, como temos nos comportado? O que temos oferecido a eles? Que tipo de relação estabelecemos?

O vídeo traz a fala de que o professor educa coletivamente e a mãe educa individualmente. Verdade. Quando pensamos que estamos conduzindo as crianças, dependendo da maneira como o fazemos, obtemos determinada resposta delas. Então, pode parecer mais fácil conduzir uma criança para onde desejo do que fazer 30 crianças irem para o mesmo lado onde aponto. Entretanto, a educação sempre será individual, porque a turma não representa o indivíduo, a relação que o professor estabelece com cada aluno é única e se o adulto em sala de aula não estabelecer uma relação de respeito e acolhimento individual, conduzir uma turma torna-se tarefa heroica.

O psicólogo Lino de Macedo traz reflexões interessantes: “A escola é um lugar de conviver num contexto de diferentes” . Entendo o que ele quer dizer: cada ser humano é diferente um do outro, embora tenhamos algumas afinidades com umas ou outras pessoas, ainda assim, pensamos, reagimos e digerimos as coisas de formas diferenciadas. Portanto, se a escola é um lugar de conviver com o diferente, porque as turmas são organizadas com crianças todas da mesma idade? As crianças da mesma idade são mais iguais que as crianças de idades diferentes (óbvio). Colocar as crianças com desenvolvimentos semelhantes na mesma sala, requer do professor menos jogo de cintura do que em uma turma multiseriada. É claro que se aprofundarmos este único tema, teríamos claramente alguns prós e contras de cada lado, mas o ponto onde quero chegar não é exatamente sobre o que se ganha ou perde numa turma regular ou multiseriada, mas qual o papel do educador frente às crianças.

Alguém disse: “Preparar para uma vida futura” (!!!) Reparem que essa frase já virou clichê, mas além do fato de ser uma frase pronta, paremos para refletir um pouco sobre ela: Se estamos a preparar as crianças para uma vida futura, o que está acontecendo de fato no presente dela? Levando essa frase adiante, perpetuamos o fato de que vivemos ansiando por um futuro e gerando estresse sem nos darmos conta do “agora”, isso nos distancia de nós mesmos, nos faz máquinas preparadas para responder a um futuro que, inclusive, já mudou do que pensávamos ser futuro. Sem querer ser dramática, ainda precisamos pensar: E se não houver futuro? E se, distraídos, morremos atropelados pensando no futuro? O que estamos fazendo AGORA? Ok. Pensar em nossa finitude assusta? Por que será? Como está o nosso presente, que ficamos assustados pensando na morte?

Lino de Macedo ainda cita: “Olha que maravilha para uma criança de 4 a 6 anos que realiza projetos de iniciação científica: por exemplo, uma horta, que vai a uma feira, que aprende a fazer bolo, que vai comprar os ingredientes e é iniciada na natureza, no valor da alimentação” YES! Fazemos isso com as crianças em família, não? A iniciação científica para a criança começa assim e, na escola, ela não pode ir à feira de verdade, não pode fazer bolo toda hora, ela não vive em função da horta, seria muito caro levar 20 a 30 crianças todos os dias a essas experiências, a não ser que a escola funcione como uma comunidade que tem tudo isso acontecendo. Mas, em casa, muitas crianças fazem isso com suas famílias. Então me pergunto: Iniciar as crianças nesses projetos, é um papel que nos cabe como famílias. O que resta para a escola?

Não quero e nem acredito que a escola deva ser extinguida, apenas questiono como temos levado a escola através dos anos até hoje e, a partir de como construímos a escola atual, que sociedade estamos formando. Sou uma educadora! Acredito que a escola pode ser fundamental e, para isso, precisamos refletir e fazer a escola viver a vida sem tantas artificializações, porque é com a vida pulsante que a criança aprende! O segundo vídeo traz o que, creio, seja a essência da escola: proporcionar atividades de vida diária como conteúdo, onde o professor cuida e acolhe a criança como forma de fortalecer seu vínculo com ela para que esta participe ativamente e ganhe autonomia para crescer de forma íntegra. E encerra com uma premissa do próprio Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil:

“Educar significa propiciar situação de cuidado, brincadeira e aprendizagem”

Que, diga-se de passagem, é nosso papel como família.

 

 

 

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